Correios registra prejuízo, uma das estatais mais conhecidas do Brasil, encerraram o ano de 2024 com um dos piores resultados financeiros de sua história: um prejuízo de R$ 2,6 bilhões.
O número chama atenção não apenas pela magnitude, mas pela comparação com o ano anterior, quando a empresa já havia registrado perdas consideráveis de R$ 597 milhões.
Com isso, o déficit quadruplicou em apenas 12 meses, acendendo um alerta dentro do governo federal e no setor de logística nacional.
A informação foi divulgada no final de abril pela CNN Brasil, com base em documentos da empresa e declarações de fontes do Ministério das Comunicações.
O rombo põe em xeque a sustentabilidade da estatal e reacende debates sobre sua gestão, modelo de negócios e até mesmo uma possível privatização, que já foi cogitada em governos anteriores.
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De R$ 597 milhões para R$ 2,6 bilhões: o salto no prejuízo

Em 2023, os Correios fecharam com um déficit de R$ 597 milhões, número que já apontava dificuldades estruturais. No entanto, o salto para R$ 2,6 bilhões em 2024 surpreendeu até mesmo especialistas do setor.
Trata-se de um crescimento de, 335% no prejuízo, evidenciando um agravamento acelerado dos problemas internos.
Essa tendência negativa contrasta com o desempenho registrado durante a pandemia, quando os Correios chegaram a apresentar lucros, impulsionados pela alta do e-commerce e pela maior demanda por entregas. Em 2021, por exemplo, a estatal obteve lucro líquido de R$ 1,5 bilhão.
A reversão desse cenário, segundo analistas, está diretamente ligada à perda de competitividade e à má gestão operacional.
Correios registra prejuízo bilionário em 2024, o que causou?
Entre os principais fatores apontados para o prejuízo bilionário estão: queda nas receitas com serviços postais tradicionais, aumento das despesas operacionais e desequilíbrio nos contratos de prestação de serviços.
A empresa também enfrentou dificuldades em modernizar sua estrutura diante da concorrência acirrada do setor privado.
Além disso, o enfraquecimento dos serviços de envio de cartas e boletos, tradicionalmente uma das maiores fontes de receita da estatal, afetou profundamente o fluxo de caixa.
A digitalização de processos e o uso de boletos e notificações eletrônicas minaram a demanda por serviços postais físicos.
Corte de receitas e aumento de despesas operacionais
Segundo apuração da CNN Brasil, a receita líquida dos Correios caiu 5% em 2024, enquanto as despesas operacionais aumentaram cerca de 12%.
A combinação desses dois movimentos gerou um déficit difícil de controlar. A estatal ainda sofreu com encargos tributários acumulados e passivos trabalhistas que comprometem grande parte do seu orçamento.
A defasagem tecnológica também pesa. Os Correios ainda operam em muitas regiões com sistemas antigos, sem automação logística eficaz, encarecendo a operação e prejudica a competitividade frente a empresas privadas como Mercado Livre, Amazon e transportadoras como Jadlog e Azul Cargo.
Problemas com contratos, repasses e encargos
Outro ponto crítico está na má gestão de contratos e na falta de repasses financeiros. Segundo fontes internas, a estatal tem dificuldades para manter contratos lucrativos e frequentemente opera com margens apertadas.
Além disso, o passivo atuarial da empresa é expressivo: só com o plano de previdência dos funcionários (Postalis), os Correios acumulam um rombo bilionário.
Ainda em 2024, a empresa enfrentou atrasos em repasses por parte de órgãos públicos com os quais mantém convênios, o que agravou a situação do caixa.
Há registros de dívidas com fornecedores e problemas de fluxo de pagamento de funcionários terceirizados em algumas regiões do país.
Impactos na imagem da estatal e no serviço prestado à população
A deterioração das finanças afeta diretamente a imagem da empresa. Reclamações por atrasos, extravios e má qualidade no atendimento vêm aumentando, segundo dados do Reclame Aqui e do Procon.
Em 2024, houve crescimento de 18% nas queixas registradas contra os Correios em relação a 2023.
Em algumas cidades do interior e regiões periféricas, usuários relataram ausência de entregas regulares, filas nos postos de atendimento e até suspensão de serviços básicos.
Para muitos brasileiros, especialmente os que dependem exclusivamente da estatal para receber documentos e encomendas, esse cenário representa um retrocesso.
Privatização dos Correios volta ao debate
Com os prejuízos em alta, a discussão sobre a privatização dos Correios voltou à pauta nacional. Durante o governo de Jair Bolsonaro, o projeto de venda da estatal chegou a ser aprovado na Câmara, mas foi engavetado no Senado. Agora, com o rombo bilionário, setores do governo e da sociedade civil voltam a pressionar por uma reestruturação radical.
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, afirmou que “todas as alternativas estão em estudo”, sem descartar a possibilidade de privatização parcial ou concessões regionais. No entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se manifestou contra a venda da estatal em sua totalidade, destacando seu papel social em regiões remotas do Brasil.
O que dizem os especialistas e o governo sobre o futuro da empresa?
Especialistas em logística e administração pública apontam que os Correios precisam urgentemente de um plano de reestruturação administrativa, com modernização tecnológica e ajustes no modelo de governança.
Segundo o economista Alexandre Schwartsman, “não faz sentido manter uma estrutura estatal inchada e deficitária sem garantir competitividade mínima”.
Já o governo federal sinalizou a criação de um comitê técnico para avaliar alternativas. Entre as possibilidades estão: fusão com outras estatais, transformação em empresa de capital misto ou abertura para parcerias público-privadas. Ainda não há prazos definidos para nenhuma medida concreta.
Como o prejuízo dos Correios afeta o consumidor e o e-commerce?
A crise dos Correios preocupa também o setor de comércio eletrônico. Em 2024, muitas lojas virtuais e marketplaces ainda utilizam os serviços da estatal, especialmente para entregas em regiões de difícil acesso. Um eventual colapso da empresa afetaria diretamente os prazos e a qualidade de entrega.
Além disso, consumidores que utilizam os Correios para importação, especialmente via modalidade “Importa Fácil” podem ser impactados por reajustes nas tarifas, atrasos e instabilidade nos sistemas. Já há relatos de empresas que migraram totalmente para transportadoras privadas em busca de mais previsibilidade.
Considerações finais: é possível reverter a crise dos Correios?
Embora o cenário atual seja preocupante, especialistas afirmam que a crise dos Correios ainda é reversível, desde que medidas estruturais sejam tomadas com urgência.
A modernização tecnológica, a revisão de contratos e o enxugamento da máquina administrativa são passos fundamentais para tornar a empresa sustentável novamente.
No entanto, a resistência política à privatização total e a pressão dos sindicatos tornam o desafio ainda maior. Sem mudanças profundas, o risco é que o rombo continue crescendo, e os prejuízos, agora financeiros, se estendam à qualidade do serviço e à confiança da população.